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Medicina Veterinária e Saúde Pública - Mais próximos do que muitos imaginam

  • Publicado: Domingo, 12 de Abril de 2020, 15h14
  • Última atualização em Domingo, 12 de Abril de 2020, 15h14
  • Acessos: 2006

É notória a situação pandêmica que aflige a humanidade com o novo coronavírus (Covid-19), oriundo de uma grande família de vírus capaz de provocar infecções respiratórias e intestinais em humanos e animais. Imprescindível destacar que, o novo coronavírus até então não havia sido identificado em humanos, restou evidenciado após investigação epidemiológica de um surto de pneumonia idiopática ocorrida em dezembro de 2019 na cidade chinesa de Wuhan, a referida cidade é capital da província de Hubei.  De modo geral, os coronavírus podem afetar animais e humanos, podendo ter caráter zoonótico. O coronavírus causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV)), por exemplo, foi transmitido aos humanos a partir de gatos selvagens também na China em 2002. Já o coronavírus causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-Cov) foi transmitido aos humanos a partir de dromedários na Arábia Saudita em 2012. Apesar das investigações epidemiológicas iniciais associarem o início da pandemia a um mercado atacadista de pescados e de haver grande proximidade genética do vírus 2019-nCoV com um coronavírus de morcegos, de acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), ainda não há como estabelecer um reservatório animal para esse vírus, sendo fundamental que as pesquisas nesse sentido continuem e sejam aprofundadas.

Diante desta situação instável e de muita apreensão, considerando que enfrentamos um novo inimigo, no final do mês de março o Ministério da Saúde publicou a Portaria 639/2020 esperando tornar mais robusto o sistema já implantado de vigilância e tratamento, demandando o cadastramento de profissionais de saúde por meio da Portaria, neste cenário protagonizam o Médico Veterinário e mais 13 profissões para combater o coronavirus. Estes profissionais vão poder ser requisitados pelo governo nas três esferas federal, estadual e municipal para ajudar na assistência aos usuários do SUS e antes de atuar serão capacitados pelo governo federal. A Portaria não define o que cada profissional irá fazer, entretanto é uma manobra importante do Ministério da Saúde já que um fator limitante no combate a pandemia é mão de obra especializada.

Muitos receberam com surpresa esta notícia e grande parte da população desconhece o perfil do Médico Veterinário enquanto promotor da saúde única e os veem apenas como “médico dos animais”, neste sentido e visando esclarecer a população venho esclarecer acerca da atuação deste profissional que transita perfeitamente entre as ciências agrárias e de saúde. Concretiza o reconhecimento da Medicina Veterinária como profissão da área de Saúde (Resolução CNS 287/98) pelo Ministério da Saúde, mostrando o fundamental e importante papel deste profissional na construção da Atenção Básica no SUS. A publicação da Portaria 2488 de 21 de outubro de 2011 que aprova a Política Nacional de Atenção Básica para o SUS, e que inclui a Medicina Veterinária no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), faz justiça a uma classe profissional que trabalha em prol da Saúde Pública Brasileira há muitos anos. O Sistema Único de Saúde regulamentado a partir de 1990 vem sendo construído ao longo dos anos e a criação dos NASF/ESF em 2008 inicialmente não incluiu o Médico Veterinário nas profissões possíveis de compor o NASF. Tal fato fez com que, a Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNSPV/CFMV), trabalhasse desde a publicação da referida portaria até a profissão ser contemplada na nova Portaria 2488 de 21 de outubro de 2011.

O termo Saúde Pública Veterinária passa a ser citado oficialmente em 1946 com vistas ao bem estar social humano devendo proteger a vida, aplicando conhecimentos da Medicina Veterinária preventiva, enfatizada nos saberes sobre epidemiologia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1975 lança o conceito de Saúde Pública Veterinária como totalidade de ações em prol da saúde humana, mediante a aplicação da Ciência Veterinária. Este foi um avanço significativo para a comunidade veterinária, assim como para a comunidade científica, ampliando as possibilidades de pesquisas nas áreas, que posteriormente contribui para a formação do profissional Veterinário. O surgimento de novas escolas de Veterinária com linhas de pensamentos e pesquisas interligando a Medicina Veterinária e a Medicina Humana proporcionou a criação de um elo inquebrável entre as partes.

A Epidemiologia revelou-se como uma estratégia para o controle de enfermidades, sendo ela uma analise detalhada sobre os fatores relacionados a ocorrência destas doenças. E em meados de 1960 a Epidemiologia, considerada base da Saúde Pública, é reconhecida como um campo de atuação do Médico Veterinário e é reconhecido como um profissional apto a trabalhar com saúde populacional. Inserida como disciplinas nas grades curriculares das escolas para formação do profissional, podemos perceber através da evolução cronológica dos fatos a necessidade da aplicabilidade de tal saber.

A Medicina Veterinária tem por objetivo precípuo a promoção e a preservação da saúde dos animais. Ao concretizar este objetivo, o médico veterinário assegura a produtividade dos rebanhos, diminuindo o risco de transmissão de doenças de caráter zoonótico ao homem, proporcionando-lhe alimento de melhor qualidade. Implicitamente, este profissional está promovendo e preservando a saúde humana. A utilização de conhecimentos, técnicas e recursos da medicina veterinária visa à proteção e o aprimoramento da saúde humana, percebe-se, portanto, o Médico Veterinário como um sanitarista por excelência. Constituem a saúde publica veterinária, portanto o médico veterinário é um sanitarista em excelência.

Segundo Pfuetzenreiter et al. (2004) a importância das ações do Médico Veterinário surge simultaneamente com o reconhecimento deste profissional em núcleos de pesquisas, com parcerias entre Médicos de Humanos e Médicos Veterinários realizando pesquisas e comparando a anatomia e fisiologia entre as espécies conjuntamente. Tal estudo foi realizado inicialmente pelas primeiras Escolas Francesas de Veterinária no século XIX. A necessidade desta parceria advém sabidamente das diversas enfermidades que são transmitidas por animais, denotando significativa importância às ações coordenadas por conhecimento técnico específico desses profissionais.

O Médico Veterinário se incorpora muito facilmente ao grupo de profissionais de saúde por estar habituado a proteger a população contra as enfermidades coletivas. O tipo de formação recebida pelo médico veterinário está em harmonia com o conceito de saúde pública, que considera todos os fatores que determinam saúde coletiva, sem limitar-se às necessidades do indivíduo (PUETZENREITER et al.,2004; DAHER, 2007).

O Médico Veterinário atua diretamente como profissional da Saúde, utilizando dos conhecimentos adquiridos durante sua formação acadêmica. O conteúdo curricular das instituições de ensino que contemplam disciplinas voltadas para a prevenção de zoonoses, controle e erradicação de doenças infectocontagiosas, higiene e inspeção de alimentos de origem animal, bem como sua ação de promotor de educação em saúde, fazem do profissional Veterinário um importante “Elo” entre a saúde animal e humana.

Segundo Cavalheiro e Guimarães (2011), após o estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988 pela Constituição Federal, este sistema passou a ser um grande mercado de atuação para os profissionais de saúde. Para que o Médico Veterinário adentrasse a este mercado de trabalho tornou-se necessário uma formação concisa e na observância de conteúdos que o capacitasse a trabalhar nesta área.

Imperioso destacar que, há dois tipos de campos de ação da Veterinária Populacional: uma delas a Medicina Veterinária Preventiva que está ligada a saúde humana por aprimorar e aplicar conhecimentos da epidemiologia prevenindo doenças e melhorando a produção animal; já o outro tipo é a Saúde Pública Veterinária que foi desenvolvida primeiramente devido a necessidade de promover a higiene e controle de qualidade na produção de alimentos. Esta é uma atuação fundamental, visto que, os domínios e aprimoramento de técnicas de industrialização foram essenciais para atender a demanda de consumo de produtos industrializados pela população mundial cotidianamente.

Em meados do século XIX, foram realizadas pesquisas por Delafond na segunda escola de veterinária do mundo a Escola de Alfort, sobre o antrax e outros estudos de autores como Pasteur e Koch que estudaram as formas de contagio de doenças foram proporcionando uma “revolução microbiológica”, que culminou em uma melhora na abordagem sobre doenças e influenciou conhecimentos sobre agentes etiológicos e atuais formas de controle. Daí foi possível obter sucesso na criação intensiva dos animais de produção. Evolutivamente, novas práticas de vigilância epidemiológica e medidas para controle e prevenção de doenças foram sendo usadas e inovaram a aplicabilidade em Saúde Pública.

Essa interdisciplinaridade da Medicina Veterinária tem sido reforçada desde 2011, quando os médicos veterinários passaram a fazer parte do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), atuando ao lado de outros profissionais que trabalham pela qualidade da atenção básica à Saúde nos municípios brasileiros. Dentro do NASF, o médico veterinário realiza visitas domiciliares para fazer diagnóstico de riscos, possibilita educação em saúde, ou seja, vai muito além do controle de zoonoses.

Neste cenário de pandemia o Médico Veterinário pode atuar, enquanto profissional de saúde pública e mais, enquanto profundo conhecedor da Saúde Única, deve estar atento em sua lida diária, em qualquer área de atuação. Seja na clínica de pequenos animais, seja no atendimento de animais silvestres, seja na linha de inspeção, seja numa equipe do NASF-AB (Núcleo de Apoio à Saúde da Família e Atenção Básica), deve se perceber como profissional de saúde única e notar quaisquer alterações nos animais, nas pessoas e no ambiente que possam sinalizar que algo está errado. No que diz respeito ao coronavírus, ele pode contribuir com a descoberta do animal hospedeiro do novo vírus. Além disso, ele deve sempre sensibilizar a população para os cuidados necessários para a prevenção das zoonoses, como foi exemplificado acima. E indo além, ele deve sempre se lembrar de notificar as doenças e agravos de notificação obrigatória, seja no Sinan ou na Defesa Sanitária, incluindo aí possíveis Eventos de Saúde Pública, à luz da Portaria de Consolidação MS nº 4/2017.

O curso de Medicina Veterinária da UNIFESSPA campus de Xinguara – PA encontra-se coeso a essa demanda e possui em sua matriz curricular disciplinas que permitem a completa formação Médico Veterinária, alinhadas as diversas áreas de atuação seja como ciência agraria ou de saúde, seja ela pública, animal ou ambiental.

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O prof. Paulo Vinícius da Costa Mendes possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Mato Grosso (2002), Pós-Graduação em controle de qualidade de alimentos de origem animal Universidade Federal de Lavras (2003), Pós-Graduação em Agronegócios FESURV (2003), Mestre em Biologia Celular e Molecular pela Universidade Federal de Goiás (2007) e Doutor em Medicina Veterinária pela UNESP Jaboticabal SP (2015). Professor efetivo dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. Tem experiência na área de Medicina Veterinária e Zootecnia, atuando principalmente nos seguintes temas: Microbiologia, Tecnologia e Inspeção de produtos de origem animal (Carnes e Leite), Consultoria e Gestão sanitária em projetos de bovinocultura de leite e em Fábrica de laticínios e abatedouros frigoríficos atuando no Planejamento, construção da unidade de produção, elaboração e implantação de programas de autocontroles dos processos produtivos e certificação de produtos de acordo com a IFS, BRC e FSSC 22000.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAVALHEIRO, M.T.P.; GUIMARÃES, A.L. Formação para o SUS e os desafios da integração ensino serviço. Caderno FNEPAS. 2011.

DAHER, V. Guia de profissões. São Paulo: Ediouro, 2007.

PUETZENREITER, M. R.; ZYLBETSZTAJN, A.; AVILA-PIRES, F. D. Evolução histórica da medicina veterinária preventiva e saúde pública. Ciência Rural, v. 34, n.5, p. 1661-68, 2004.

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